ERROS DE PORTUGUÊS PODEM CUSTAR UMA VAGA NO MERCADO
O português é uma língua difícil, sim, mas não impossível de ser dominada. Uma simples carta de apresentação pode conter erros que minarão qualquer chance de conquistar a tão sonhada vaga. Acredite: o fraco domínio da língua é o principal fator de eliminação de candidatos, dizem os selecionadores. “Ninguém gosta de contratar um profissional que não fale ou escreva corretamente. O mercado está mais tolerante, mas dependendo da posição, erros são inaceitáveis – o profissional é um representante da empresa”, avalia a consultora e vice-presidente do Grupo Catho, Inês Perna.
Segundo Inês, o mercado exige o domínio da língua inglesa. Por outro lado, o português é um idioma difícil, e bem ou mal as pessoas falam e escrevem. “Se elas gastarem muito tempo aperfeiçoando o português, podem não conseguir dominar um outro idioma. As pessoas não lêem como antigamente, e o domínio da gramática vem de estudo e leitura”, avalia.
Embora apareçam mais freqüentemente entre os jovens, principalmente depois da chegada da Internet e da comunicação via e-mail, vícios de linguagem e erros gramaticais não são prioridade deles. Profissionais que ocupam cargos no alto escalão também costumam errar. O preenchimento de relatórios, por exemplo, é propício para todo tipo de erro. “Antigamente, quando cada diretor ou gerente contava com uma secretária, a falta de domínio da língua portuguesa não era tão levada em conta, afinal, quem precisava escrever corretamente era a secretária. Hoje isso mudou. Diretores, gerentes e supervisores dividem a mesma assistente, e começaram a colocar a mão na massa na hora de enviar relatórios, preparar documentos e enviar e-mails”, comenta Carla Zindel, diretora da escola de idiomas Holding’s.
Cresce a procura pelos cursos de português
Os deslizes com o idioma materno aparecem freqüentemente durante ligações telefônicas, reuniões formais com os clientes e entrevistas para um novo emprego. “O português é um idioma complexo, a norma culta é bastante diferente da língua normalmente falada e a falta de domínio do idioma pode comprometer a imagem profissional, colocando em dúvida a qualidade do trabalho”, diz Carla. Para ela, a imagem projetada pelos funcionários é a realidade corporativa percebida por clientes e concorrentes. “Nesse contexto, falar corretamente é imprescindível para o sucesso de uma organização, e os empregadores valorizam cada vez mais os funcionários que sabem se expressar com fluência”, complementa.
E foi com base numa experiência própria, com um de seus clientes, que Carla decidiu criar o curso “Fluência em português”, no qual profissionais de todas as áreas podem aperfeiçoar o uso da língua materna. No curso, que tem a duração de oito horas, as falhas e vícios de linguagem são identificados por meio de dinâmicas de grupo e simulações de rotinas de trabalho. “As aulas são ministradas nos formatos de um workshop, pois trabalhando com situações reais do mundo corporativo o professor consegue eliminar as possíveis resistências dos alunos em relação às aulas em português”, explica Carla.
Além das apostilas, músicas e vídeos com comerciais de TV e discursos de políticos também fazem parte do material didático utilizado no decorrer do curso. A idéia é reunir uma ampla gama de exemplos dos erros mais comuns cometidos pelos brasileiros ao utilizarem a língua portuguesa. "As aulas são personalizadas de acordo com a necessidade de cada grupo", conta Carla. Para profissionais que atuam no setor de atendimento ao consumidor, por exemplo, o foco é na expressão oral, priorizando o uso correto da língua portuguesa para conversação, ensinando o aluno a expor suas idéias de forma clara. “O principal objetivo das aulas é ensinar o aluno a organizar bem as idéias antes de falar ou escrever, porque só assim é possível se expressar de forma clara e concisa, de acordo com a exigência do mundo profissional”.
Má comunicação
Mais do que erros gramaticais, a má comunicação é um dos problemas mais comuns vivenciados pelos profissionais. Para o diretor do Instituto Canopus, Roberto Amado, o problema mais grave está na dificuldade de comunicação. A Canopus também realiza cursos de português com o intuito de capacitar os executivos a dominar, de maneira clara e objetiva, a arte da comunicação, apresentando os fundamentos básicos da redação, como objetividade e encadeamento das idéias.
Ao procurar pelo curso, o futuro aluno passa por um teste para detectar o nível de domínio e conhecimento do idioma, como ocorre nos cursos de línguas. Ao final do curso é aplicado novamente o teste para verificar o índice de aproveitamento e retenção do conteúdo apresentado. “A falta de objetividade em uma comunicação escrita é a principal dificuldade encontrada pelos alunos que nos procuram. Nossa língua é pouco objetiva, valoriza a forma redundante, prolixa. E a chegada do e-mail, que privilegia uma comunicação mais rápida, está levando os profissionais a encontrarem dificuldades ainda mais fortes na hora de se comunicarem”.
Segundo Carla, da Holding’s, é na hora de redigir os textos – desde um formulário técnico a um e-mail -, que os empresários percebem que o português está fazendo falta. “Existe muita dificuldade na sintetização das informações. Na comunicação escrita é mais difícil perceber que se está falando errado. É na hora de falar que surgem as dúvidas, que podem comprometer seriamente o profissional em uma entrevista de emprego”.
Carla comenta, ainda, que é nesse momento que as chances de impressionar o selecionador correm riscos mais sérios. “A insegurança por não saber se está falando corretamente, empregando os verbos no tempo certo e respeitando concordâncias, transparece no rosto da pessoa. Geralmente isso ocorre porque a pessoa, de tanto querer rebuscar seu português, comete ainda mais erros. E aí, essa insegurança é vista pelo selecionador como falta de capacidade”.
Erros comuns, que à primeira vista podem parecer banais, como “fazem dez anos”, em vez de “faz dez anos”, podem comprometer a credibilidade do profissional e da empresa. “Por isso, o redator de documentos empresariais deve ler boa literatura, revistas especializadas e textos variados a fim de aprimorar a produção escrita”, opina a professora de português Laurinda Grion, autora do livro “400 erros que os executivos cometem ao falar e redigir" (Editora Edicta).
Em seus cursos, Laurinda aborda tópicos como uso dos porquês, concordância, pontuação, verbos, colocação pronominal, crase, plural de substantivos e adjetivos, regência, recursos de estilo, ambigüidade, textos empresariais, entre outros itens. E Laurinda dá algumas sugestões:
Dê preferência a frases curtas.
Use a ordem direta (sujeito + verbo + complemento verbal).
Preste atenção no ritmo do texto e nas regras gramaticais.
Tenha livros de gramática, dicionário e tira-dúvidas e os consulte.
Já em relação aos e-mails, os erros mais comuns, enumera Laurinda, são:
Mensagens prolixas.
Introduções em desuso como: “Venho por meio deste”, “Visa a presente informar”, “Pelo presente informamos”, “Venho através deste informar”.
Conexões defeituosas.
Erros gramaticais (crase, pontuação e concordância).
Descuido com a aparência do texto (uso de abreviaturas como vc, q, tbm, qndo, pq, entre outras).
Erros mais comuns:
"Fazem" cinco anos. Fazer, quando exprime tempo, é impessoal: faz cinco anos / fazia dois séculos / fez 15 dias.
"Houveram" muitos acidentes. Haver, como existir, também é invariável: houve muitos acidentes / havia muitas pessoas / deve haver muitos casos iguais.
Para "mim" fazer. Mim não faz, porque não pode ser sujeito. Assim: para eu fazer, para eu dizer, para eu trazer.
Entre "eu" e você. Depois de preposição, usa-se mim ou ti: entre mim e você / entre eles e ti.
"Há" dez anos "atrás". Há e atrás indicam passado na frase. Use apenas há dez anos ou dez anos atrás.
"Porque" você foi? Sempre que estiver clara ou implícita a palavra razão, use por que separado: por que (razão) você foi? / não sei por que (razão) ele faltou / explique por que razão você se atrasou. Porque é usado nas respostas: ele se atrasou porque o trânsito estava congestionado.
Não há regra sem "excessão". O certo é exceção. Veja outras grafias erradas e, entre parênteses, a forma correta: "paralizar" (paralisar), "beneficiente" (beneficente), "xuxu" (chuchu), "previlégio" (privilégio), "vultuoso" (vultoso), "cincoenta" (cinqüenta), "zuar" (zoar), "frustado" (frustrado), "calcáreo" (calcário), "advinhar" (adivinhar), "benvindo" (bem-vindo), "ascenção" (ascensão), "pixar" (pichar), "impecilho" (empecilho), "envólucro" (invólucro).
Nunca "lhe" vi. O pronome lhe substitui a ele, a eles, a você e a vocês e por isso não pode ser usado com objeto direto: nunca o vi / não o convidei / a mulher o deixou / ela o ama.
Ela era "meia" louca. Meio, advérbio, não varia: meio louca, meio esperta, meio amiga.
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