domingo, 13 de fevereiro de 2011

Obras ou fé - Paulo e Tiago se contradisseram?

Mãos à Obra

Irmãos, uma vez que temos crido no Senhor Jesus, devemos por mãos à obra. Certo ou Errado?

Antes de responder, devemos perguntar : Mas que obra? Que tipo de obras?

Veja esses trechos da Sagrada Escritura. Nele vemos dois homens de Deus, explicando aquilo pela Luz do Espírito Santo haviam compreendido :

Nosso irmão Paulo aos nossos irmãos que estavam em Roma - Romanos capítulo 4 verso 2
...Porque, se Abraão foi justificado por obras, tem de que se gloriar, porém não diante de Deus.

E nosso irmão Tiago em sua carta aos cristãos da época – Tiago capítulo 2, verso 21
...Não foi por obras que Abraão, o nosso pai, foi justificado, quando ofereceu sobre o altar o próprio filho, Isaque?

Às vezes, ao desatento pode parecer que há aí uma pequena divergência, ou não?

Vamos procurar entender o que acontecia lá, naquela época ? E aqui vai um pouquinho do que já aprendi a respeito:

Paulo, segundo relatado por Lucas, em Atos dos Apóstolos, era um estudioso da lei. E era fariseu, segundo os ensinos da lei, conforme ele mesmo chegou a comentar em seus discursos e em suas cartas. Como seguidor da lei, conhecia todos os preceitos, obrigações e proibições que a lei ordenava. Para se ter uma idéia, as probições passavam de 300 enquanto os preceitos chegavam a ultrapassar o número de 200. E Paulo era um fariseu, segundo ele, zeloso e irrepreensível. Ou seja, pela lei, ele estava corretíssimo.

No entanto, quando se converteu a Cristo, julgou que tudo aquilo que havia aprendido poderia ser considerado com lixo, porque através de Jesus foi lhe revelada a Graça de Deus. Isso significa dizer que ele se apercebeu que não era através de rituais, obrigações e preceitos da lei que o homem era aceito por Deus, mas única e exclusivamente pela fé em Cristo.

E é justamente isso que Paulo começou a ensinar e teve forte rejeição dos judeus da época.
Para eles era um escândalo não seguir os preceitos da lei. Por exemplo, um dos preceitos mosaicos (Moíses) era a circuncisão (tipo uma operação de fimose que todo rescém-nascido do sexo masculino deveria ser submetido, aos 8 dias de vida) que era um ritual que todo judeu deveria fazer como sinal de aliança com Deus. Ora, os judeus convertidos a Cristo queriam que todas as pessoas que se convertessem também passassem por esse ritual. Chegavam a dizer que quem não fosse circuncidado não era completo e coisas do gênero. Foi tamanha a batalha travada nesse campo que Paulo se sentiu constrangido ao ponto de pedir a Timóteo que se circuncidasse. Mas Paulo, que havia sido chamado a levar o Evangelho aos povos que não eram judeus, como havia compreendido o que era Graça de Deus, anunciava apenas a fé em Cristo, o que era suficiente para a salvação.

E o que fez com que ele escrevesse aquela carta aos Gálatas? Uma das coisas era que os Gálatas, uma vez tendo crido em Cristo pela pregação de Paulo, estavam mudando de opinião com relação ao que precisava ser necessário para ser salvo. Por causa de alguns judeus que foram lá criar confusão, os Gálatas estavam achando que precisavam praticar a circuncisão. Isso não só era um “andar para trás”, como também era perigoso para a saúde do Evangelho. Pois se a moda pegasse, todo mundo que se convertesse a Cristo, teria também que seguir os ritos judaicos, inclusive a circuncisão. Já pensou ? Além de batizados em Cristo ainda teríamos que fazer uma típica operação da fimose, ou seja, retirar o prepúcio (excesso de pele) do orgão reprodutor masculino.

Daí Paulo, de modo severo, vai repreender aos Gálatas explicando que eles tinham começado no espírito (pela fé em Cristo), mas estavam querendo terminar pela carne (seguir rituais), para serem considerados filhos de Deus.

Paulo dirá, com toda sabedoria que Deus lhe deu, que as OBRAS RITUAIS não poderiam salvar ninguém. Isso mesmo : OBRAS RITUAIS ou também chamadas OBRAS DA LEI, ou para melhor entendermos PRECEITOS e REGRAS. APENAS preceitos e regras. E isso era o que mais tinha na crença judaíca. Tinham de seguir regras de purificação, guardar os sábados, dias especiais de festas, não poder comer certos alimentos, etc, etc, etc.

Paulo iria deixar claro, de modo resumido na carta aos Gálatas e de modo bem detalhado na carta aos Romanos que o que salva o homem é sua Fé em Cristo Jesus.

Com essas explicações, parece que os cristãos iriam se dar conta disso. No entanto um efeito colateral começou a surgir daquilo que Paulo estava ensinando. Os novos cristãos, ouvindo falar que só era necessário fé para ser salvo, passaram a fazer tudo o que “dava nas suas cabeças”, pois pelo que sabiam o importante era só ter fé.

Ou seja, começaram, por assim dizer, andar até mesmo em perversidades, satisfazendo todos os seus desejos, porque o importante era ter fé.

Já imaginaram a tristeza de Paulo ao ouvir esse tipo de comportamento. Daí Paulo na cartas aos Gálatas, de modo contundente, fala sobre as OBRAS carne e FRUTOS do espírito. Paulo não utiliza o termo OBRAS, mas uso o termo FRUTOS.

Ele queria explicar que embora fosse claro que a fé salva, ela teria de vir acompanhada de frutos do espírito. Tanto que ao enumerar as obras da carne, Paulo ele lista uma série de coisas que qualquer um, em sã consciência, pode ver que eram, no mínimo, ruins. E eram realmente coisas que não seria “legal” alguém que se diz seguidor de Cristo fazer. E ele adverte: os que praticavam tais coisas NÃO ENTRARÃO NO REINO DOS CÉUS.

Ou seja, a fé em Cristo salva e nos traz liberdade, nos livrando de ter que seguir um monte de regras para sermos salvos (que eram as obrigações judaicas da lei de Moisés).
Só a fé é suficiente!
Só que isso não nos dá liberdade para a libertinagem, ou seja, fazer o que der “na telha”, dizendo: “...Ah, eu só cristão, olha só, tenho fé em Cristo...” mas “pintando e bordando” como diria o ditado popular.

Vejo outro trecho da carta de Paulo aos Gálatas - (Gálatas capítulo 2,verso 16)
...sabendo, contudo, que o homem não é justificado por obras da lei, e sim mediante a fé em Cristo Jesus, também temos crido em Cristo Jesus, para que fôssemos justificados pela fé em Cristo e não por obras da lei, pois, por obras da lei, ninguém será justificado.

OU SEJA, ele falava que o homem se tornava JUSTO perante Deus por ter fé em Cristo e não por seguir OBRAS DA LEI – E devemos entender “obras da lei” como aquele monte de regras judaicas, sendo um exemplo clássico delas, a circuncisão.

Agora deixemos Paulo e vamos para Tiago. Parece-me que Tiago ficou a par das explicações de seu irmão Paulo. E também sentiu a necessidade de esclarecer aos menos avisados, de que a fé era fundamental mas que tinha que vir acompanhado de frutos. E nesse caso Tiago utiliza o termo “obras”.

É claro pela leitura dessas cartas que se percebe que eles estão falando de “obras” diferentes. Quando Paulo utiliza o termo “obras” e está falando das OBRAS RITUAIS – PRECEITOS – REGRAS – OBRAS DA LEI.

Quando Tiago utiliza o termo “obras” e está falando de obras do amor, aquilo que Paulo chamou de frutos do espírito.

Tiago demonstra de modo claro que nossa fé em Cristo tem que ter uma consequência coerente e nos levar a praticar os ensinamentos de Cristo. Pois se não agirmos de acordo com o amor ensinado por Jesus, nossa fé seria morta.

Ele mostra que não basta dizer que tem-se fé em Cristo, ou seja, que se acredita Nele. Inclusive ele mostra que até os demônios criam em Cristo (sabiam de sua existência) e tremiam. Daí temos de Tiago a carta onde ele discorre sobre esse assunto. Veja um trecho abaixo :

Tiago capítulo 2, verso 14 a 26
14 - Meus irmãos, qual é o proveito, se alguém disser que tem fé, mas não tiver obras? Pode, acaso, semelhante fé salvá-lo?
15 - Se um irmão ou uma irmã estiverem carecidos de roupa e necessitados do alimento cotidiano,
16 - e qualquer dentre vós lhes disser: Ide em paz, aquecei-vos e fartai-vos, sem, contudo, lhes dar o necessário para o corpo, qual é o proveito disso?
17 - Assim, também a fé, se não tiver obras, por si só está morta.
18 - Mas alguém dirá: Tu tens fé, e eu tenho obras; mostra-me essa tua fé sem as obras, e eu, com as obras, te mostrarei a minha fé.
19 - Crês, tu, que Deus é um só? Fazes bem. Até os demônios crêem e tremem.
20 - Queres, pois, ficar certo, ó homem insensato, de que a fé sem as obras é inoperante?
21 - Não foi por obras que Abraão, o nosso pai, foi justificado, quando ofereceu sobre o altar o próprio filho, Isaque?
22 - Vês como a fé operava juntamente com as suas obras; com efeito, foi pelas obras que a fé se consumou,
23 - e se cumpriu a Escritura, a qual diz: Ora, Abraão creu em Deus, e isso lhe foi imputado para justiça; e: Foi chamado amigo de Deus.
24 - Verificais que uma pessoa é justificada por obras e não por fé somente.
25 - De igual modo, não foi também justificada por obras a meretriz Raabe, quando acolheu os emissários e os fez partir por outro caminho?
26 - Porque, assim como o corpo sem espírito é morto, assim também a fé sem obras é morta.

E ele utiliza o mesmo exemplo utilizado por Paulo, o de Abraão. Paulo afirma que Abraão foi tido como justo por Deus, pela fé. E Tiago completa dizendo que a consequência da fé de Abraão foi vista por seus atos (a saber, o possível sacrifício de seu filho Isaque).

Daí ele completar a célebre frase de que a fé sem obras é morta. E que obras ? As obras do amor (não basta dizer ao necessitado, vai em paz, se aqueça e satisfaça sua fome, se não dermos a ele roupa e alimentos).

Por isso que Jesus Cristo disse, relatado no Evangelho de João capítulo 14, verso 21:
“...Aquele que tem meus mandamentos e os guarda, esse é o que me ama, e o que me ama é amado por meu Pai, e eu também o amarei e me manifestarei a ele...”

Ou seja, para demonstrarmos que amamos a Cristo não basta dizer que temos fé Nele. Nossa fé deve levar-nos a guardar seus mandamentos (seguí-los). Assim demonstraremos verdadeiramente que o amamos produzindo os frutos por Ele esperados.

Então as obras são, na verdade, os frutos do viver o mandamento supremo do Amor.
Do contrário, se nossas obras não são revestidas do amor, serão apenas obras provindas de nossos insitintos humanos, os que muitos chamam de “carnalidade”.

Gostaria de deixar outros trechos das Escrituras que utilizam o termo “obras” daqueles que seguem a Cristo:
Evangelho de João capítulo 3, verso 19
“O julgamento é este: que a luz veio ao mundo, e os homens amaram mais as trevas do que a luz; porque as suas obras eram más.”

Evangelho de João capítulo 3, verso 21
Quem pratica a verdade aproxima-se da luz, a fim de que as suas obras sejam manifestas, porque feitas em Deus.

Evangelho de João capítulo 7, verso 7
Não pode o mundo odiar-vos, mas a mim me odeia, porque eu dou testemunho a seu respeito de que as suas obras são más

Evangelho de João capítulo  8, verso 39
Então, lhe responderam: Nosso pai é Abraão. Disse-lhes Jesus: Se sois filhos de Abraão, praticai as obras de Abraão.

Carta de Paulo aos Efésios capítulo 5, verso 11
E não sejais cúmplices nas obras infrutíferas das trevas; antes, porém, reprovai-as.


Assim, meus irmãos, ANALISEMOS BEM nossa crença e a consequência dela. Estamos produzindo os frutos esperados por Deus ?

Então, Fé em Cristo e mãos à obra.

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